Dicas que eu deveria conhecer (mas ninguém me falou) quando comecei a fazer cerveja.


Por Luís Otávio

É natural que quando começamos a produzir nossa própria cerveja surjam várias dúvidas quanto aos ingredientes, procedimentos e métodos que mais facilitariam sua vida e resultariam numa melhor qualidade da cerveja que será produzida. Quando se tem à quem perguntar, fica fácil! Mas e se não temos?
Algumas dicas simples podem ajudar muito na qualidade final da cerveja produzida. Aqui serão apresentadas algumas dessas dicas dadas que devem facilitar a vida de muitos.
Queria eu ter sabido disso antes de iniciar!

1 - Use ingredientes frescos, de alta qualidade: ingredientes frescos garantem uma cerveja melhor! quem nunca viu a celebre frase ”feita com ingredientes importados”. Propaganda barata, basicamente todos os ingredientes utilizados na produção de uma cerveja são importados. Portanto, vale à pena checar com o fornecedor a data de produção do insumo e sempre optar por ingredientes frescos e dentro do prazo de validade. Use os ingredientes tão rápido quanto possa. Caso os guarde, lembre-se sempre de manter fermentos na geladeira, lúpulo do freezer e grãos em locais frescos e adequados. Triturar o malte e armazená-lo por longo período vai contribuir para a sua oxidação e diminuir a qualidade da sua cerveja. 

2- Faça a tarefa de casa: produzir uma cerveja cada vez melhor é parte “mão na massa” e parte ciência. Entender a “ciência da cerveja” vai ajudá-lo a produzir e entender os passos para produzir uma boa cerveja. Mas... Como eu posso aprender? Bem, existem vários livros interessantes sobre o assunto, vale a pena estudá-los. Outra fonte interessante e muito importante é a participação em fóruns da internet das várias comunidades voltadas para o assunto e também as páginas mantidas pelas associações de cervejeiros artesanais (ACERVAS) em nosso país. Por fim, existem vários softwares que podem ajudá-lo a planejar uma determinada receita, tais como o Beerstmith e o Promash, entre outros. Todas essas ferramentas podem - e vão - contribuir para a melhora da qualidade da sua cerveja.

3 – Mantenha tudo esterilizado: higiene é fundamental na produção de uma boa cerveja. Ainda lembro o desgosto ao perceber que 20 L de uma cerveja de trigo havia azedado1. Lembrar daquele precioso néctar sendo jogado no ralo da pia ainda me causa pesadelos terríveis! Linhas gerais, qualquer coisa que entre em contato com a sua cerveja após ela ter sido resfriada não será passível de sanitização por qualquer método comum (alvejantes, iodofórmio, etc.). O período após o resfriamento da sua cerveja é crítico, uma vez que bactérias e outros organismos podem contaminar sua preciosa cerveja antes mesmo da fermentação ser iniciada. Portanto, se não quiser ter a surpresa desagradável de ver um bixo peludo boiando no seu fermentador, higiene é essencial!
Nota: depois o companheiro Alfredo descobriu que esse tipo de cerveja é muito apreciada pelos nossos amigos belgas, hehehe!

4 – Resfrie o mosto rapidamente: além da agonia da espera de ver seus precisos litros de mosto resfriar, aumentar a velocidade desse processo vai contribuir para a precipitação de proteínas e taninos, que são substâncias indesejáveis na sua cerveja, além, é claro, de reduzir o risco de contaminação. A aquisição de uma serpentina de cobre vai colaborar significativamente para a melhora da claridade e da qualidade da sua cerveja. 
    
5 – Ferva o mosto por no mínimo 60 – 90 minutos: ferver o mosto por no mínimo 60 minutos só contribui para a melhora da sua cerveja. Esse processo vai esterilizar o mosto, vaporizar compostos indesejáveis, liberar o amargor do lúpulo, e coagular proteínas e taninos dos grãos de modo que eles precipitem durante o resfriamento. Assim, para atingir esse propósito, uma fonte vigorosa de calor, tal qual um fogareiro, vai lhe auxiliar muito mais do que aquela tímida boquinha de seu fogão.  

6 – Controle a temperatura de fermentação: num país onde a temperatura pode variar de altos 40 graus durante o dia até baixos 10 graus durante a madrugada, é de se esperar que esse clima de deserto deixe sua levedura atormentada. Embora existam fermentadores com controle de temperatura no mercado e muitos cervejeiros tenham optado por isso, a melhor técnica caseira ainda consiste em procurar o local mais fresco, seco e arejado de sua casa e colocar seu fermentador lá. Embrulhe-o com toalhas molhadas e renove-as a cada 12 horas. Desse modo, você terá uma temperatura mais amena durante a fermentação do seu mosto. Caso necessário, use um termômetro acoplado ao fermentador para um controle mais preciso. 

7 – Use um caldeirão para ferver todo o seu mosto: ferver todo volume do seu mosto será muito benéfico para a sua cerveja. Se você está fervendo apenas metade ou 2/3 do seu mosto por falta de um caldeirão maior ou por falta de uma fonte de calor mais eficiente, faça rapidamente uma atualização de seu equipamento. Não será caro e ainda deixará sua esposa mais feliz, já que poderá fazer sua cerveja bem longe dela!

8 – Use fermentadores de vidro: tá bom vai, nada melhor (e barato) que usar àquela bombona de água mineral, né? Pois bem, saiba que o uso de fermentadores de vidro ou aço inox oferecem inúmeras vantagens diante da nossa clássica bombona ou mesmo do fermentadores plásticos: muito mais fáceis de limpar, hermeticamente livres de oxigênio atmosférico, etc. Fermentadores plásticos são materiais porosos que permitem a passagem de O2 e além disso, esses compartimentos podem vazar pelas extremidades, tornando mais difícil a detecção do final da fermentação.   

9 – Faça uma fermentação inicial: sua fermentação será muito melhor se você fizer um preparado inicial para o seu fermento. Dois ou três dias antes de preparar sua cerveja, ferva uma pequena quantidade desses extratos de malte seco (vendidos em casas do ramo) juntamente com 1 L de água. Resfrie e adicione seu fermento. Tampe bem com uma rolha contendo uma válvula airlock e mantenha em local fresco e escuro.
No dia do preparo da cerveja, adicionar seu “starter” ao mosto vai resultar numa fermentação mais vigorosa e num menor risco de contaminação, já que sua levedura estará em vantagem reprodutiva perante os organismos concorrentes que desejam acabar com o seu precioso néctar.         

10 – Faça compras olhando para o futuro: começamos sempre produzindo nossas levas com o que dispomos e quase sempre improvisando. Entretanto, quando a ficha cai, estamos diante de um novo e excitante hobby! Pois bem, chegou a hora de fazer novas aquisições e não adiantará nada fazermos aumentos graduais em nosso equipamento, o negócio é dar um salto grande! Por exemplo, ao invés de comprar um novo caldeirão de 20 L, depois um de 25 L, depois um de 30 L e depois um de 40 L, melhor comprar logo um de 40 L! Ao invés de comprar uma serpentina de cobre de 1 m, depois uma de 3 m, depois uma de 10 m , compremos logo uma de 10 m! Fazendo assim, você economizara muito dinheiro!

Espero que isso os ajude!

E não diga que ninguém falou!


Texto adaptado de: Ten Top Tips for Home Brewing Beer by Brad Smith. February 16, 2008. Acessado em: http://www.beersmith.com.

Dicas de leitura:
John J. Palmer. How to Brew (3a Edicao). 2006.

Um comentário: